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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

CHORO E RISO...TUDO FAZ PARTE

O relógio do tempo marcava exatamente 23h24. O silêncio em que eu me encontrava era profundo, apenas competia com dois barulhos: um que vinha de fora da casa. No mato, um grilo excitado fazia aquele barulhinho estridente da sua cantoria...cri, cri, criiiiiiii. O outro, era do ventilador, rouco, no quarto, girando pra lá e pra cá para amenizar o calor.
Estava lendo “A terceira xícara de chá”, buscando concentração, quando me assusto com dois toques de mensagem no celular.

Ao mesmo tempo que lia, pensava, angustiada, nos momentos decisivos que estava vivendo... longe da minha casa que deixei alugada. A casa que construí durante anos e anos, devagarinho, como quem anda ao encontro do sonho e tem medo dele sumir no espaço antes de se tornar realidade. Longe dos amigos que conquistei e aqui, morando de aluguel. Pode um paradoxo desses? Foi assim toda a minha vida, entre o ser e o não ser. Guardo até uma poesia que um cara, em Goiânia, certa vez escreveu pra mim, quando eu tinha 15 anos. O título era “Marilena: a garota paradoxal”. Foi a primeira vez que vi esse nome estranho e lindo...rsrsrs. Fui ver o significado no dicionário e me identifiquei com a tradução e aqui estou eu, paradoxal, angustiada, querendo dormir mas pensando em tudo, em toda mudança que anda acontecendo comigo.

Era seis de agosto de 2009. Como eu dizia, meu celular acusava, com toque, mensagem. Era de uma amiga leal, amorosa, presente,  fazendo-me uma pergunta:
– Já está dormindo?
Respondo no instante seguinte: - Não. Por que?
Às 23h26, mais outro toque: – Posso te ligar?
Feliz, respondo de imediato: - Claro!
Exatamente um segundo depois, às 23h27 ela me liga. Ouço a voz amiga e sinto uma paz, um bem-estar há muito esquecido, nesses últimos dias. Percebo intensidade na sua voz. Parece que no espaço de 2.200 Kms ela pressentiu minha tristeza, minha angústia, meu abandono. Ou foi uma transmissão de sentimento? Começa falando suavemente, para não me causar preocupação, que tem pensado muito em mim. Sinto sua respiração se alterando e bem baixinho, escuto, espontâneo e verdadeiro, seu choro. Era um choro tranqüilo, se é que existe, e não me assustou. Vi que não era nada grave. Quando ela, meigamente, me conta que estava relembrando minha vida na casinha alugada - que ela conheceu, - sentindo peninha. Lembrando como eu estava vivendo e como já me viu viver. Resolveu ligar, ouvir minha voz, saber como eu estava. Não resistiu à emoção e acabou chorando, comovida.
Isso é que é amizade!!! Na alegria e na tristeza, o apoio, a presença.
É claro que também fiquei emocionada e chorei. Espero tudo dessa amiga, porque sei que tudo que vem é do coração, da amizade, do carinho que nutrimos uma pela outra.
Ela intuiu a minha angústia, tristeza, decepção, imobilidade, na busca de uma casa para comprar, em condições que me agradasse. Estava difícil resolver essa pendência que não dependia somente de mim.
Nossa conversa é longa e todas as manifestações de amor, de amizade, de respeito, de estima nos envolvem. A nossa ligação é divina, tem a ver com espiritualidade.
Choro mais ainda. Comove-me sua ternura. Fico imaginando-a, na sua casa, sozinha também, preocupada com meus problemas e tendo os seus para controlá-los.
Amiga para todos os tempos, todas as horas, todas as formas.
Amiga delicada, dedicada, terna.
Foi minha primeira visita depois que me mudei para Aracaju. Eu a recebi na casinha de aluguel, com muita simplicidade. Vivemos momentos inesquecíveis, dentro e fora da casinha.
Na praia, caminhando, ouvindo o barulho das ondas, molhando os pés, sentindo o silêncio, fazendo orações, sentando na areia, fazendo malabarismos de alongamentos, gritando, rindo, abraçando.
Comemos carangueijo, escolhido no viveiro. Tomamos cerveja sem arrependimento ou censura. Fomos a quase todos os lugares que selecionei para levá-la.
Comemos pipoca sentadas juntinhas no sofazinho de bambu na sala, assistindo TV, rindo, brincando, arrulhando igual criança na escola.
Ela se foi, voltando para sua vida profissional, familiar e social. E eu fiquei aqui, sozinha, sentindo um imenso vazio. Minha vida silenciosa ficou muda...